Recomeço

Dias atrás recebi de uma paroquiana uma mensagem triste, falando de um tratamento de saúde que não saiu como esperado. Vai precisar, novamente, recomeçar o processo doloroso e lento de investida contra a doença que insiste em permanecer. Confesso que também fiquei abalado com a notícia. Rezei tanto pedindo a Deus a cura para ela. Tinha certeza de que voltaria renovada e cheia de alegria pelo sucesso da cirurgia, mas não foi assim. Retornou com a incumbência de continuar os preparativos e esperar o momento certo, a hora certa, os resultados certos dos exames.

A esperança precisa ser renovada, mas, primeiro, é preciso encontrar um espaço para chorar e derramar a alma que sofre com toda essa situação. É legítimo dar espaço ao sofrimento, até mesmo para poder liberar espaços no coração e na mente e, assim, ir ocupando-se com as novas possibilidades e encher-se novamente de esperança.

No livro de Jó, encontramos um texto que retrata bem o momento humano do desespero. Depois que tudo lhe foi tirado, vendo-se sozinho e sem nenhuma perspectiva de voltar a ter a vida que tinha, Jó diz: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?”. E sabemos bem que é realmente uma luta diária. Podemos até encontrar momentos de paz, mas quem nos garante se será duradoura?

Ele, olhando para si e refletindo, chega a uma conclusão: “Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”. É o pior lamento que um ser humano pode fazer. Ver o tempo indo embora, juntamente com a alegria e a esperança que deveriam dar forças para reerguer-se.

Nesse momento, a fé em Deus nos ajuda muito, e ela, que voltou a preparar o seu organismo para receber o tratamento adequado, tem muita. A fé nos ajuda a segurar no peito a certeza de que tudo acabará bem. Leva-nos a caminhos seguros, onde Deus nunca se ausenta e sempre está próximo. A fé une a família, os amigos, a comunidade que, de alguma forma, torce, reza, sofre e se alegra com aquele que precisa.

Um dia, Jesus saindo da sinagoga, em Cafarnaum, entrou na casa de Pedro e de seu irmão André. Ao chegar, foi avisado que a sogra de Pedro estava doente, na cama, com uma febre muito alta. Jesus se aproximou, segurou a sua mão e ajudou-a a levantar-se.

Aqui está, de maneira muito simples, uma das pedagogias que Jesus usa para nos socorrer nos momentos mais difíceis. Primeiro Ele se aproxima. Temos um Deus próximo, que fez morada entre nós. Isaías havia dito que o nome do menino seria Emanuel, ou seja, Deus conosco. E sempre foi assim. Desde o relato da criação do mundo, encontramos um Deus que não quer ficar sozinho. Cria o homem e a mulher segundo a sua imagem e semelhança, e coloca nesse ser o seu hálito vivificante. Mais próximo do que isso, impossível.

Carregamos em nós as marcas dessa criação. Trazemos espaços em nosso corpo e em nossa alma que só Deus pode preencher. É por isso que temos a capacidade de nos renovar, renascer de novo, como uma Fênix saindo das cinzas, triunfando sobre a morte e carregando nesse corpo frágil o dom da imortalidade.

Ele não só quer ser próximo, mas segura a nossa mão. Toca o nosso ser. Abraça-nos e, se for preciso, carrega no colo. Temos vários exemplos bíblicos disso. Podemos nos lembrar do pai do filho pródigo que, ao vê-lo retornando a casa, depois de um longo período de separação, corre e pula em seu pescoço num abraço profundo e paterno. Tem Pedro que, em plena tempestade, ao ver o Senhor, desce do barco, mesmo cheio de dúvidas, e caminha sobre as águas ao seu encontro. Mas, quando começa a afundar, recebe a mão forte de Jesus, levantando-o e trazendo-o para perto de si.

Podemos ainda recordar a mulher pecadora que, num rompante de histeria dos homens que estavam ao seu redor, carregavam pedras nas mãos para apedrejá-la. Jesus aproximou-se dela, abaixou-se a seu lado e ficou esperando o ato violento acontecer, correndo um grande risco de levar com ela as pedradas que lhe seriam atiradas.

Por fim, Ele nos ajuda a levantar e nos enche de esperança. Com ternura cuida de nossas feridas, faz baixar a febre que nos prostra, traz de volta a alegria que havia secado em nosso coração.

O salmo cento e quarenta e sete diz assim: “O Senhor conforta os corações despedaçados, enfaixa as suas feridas e as cura”. Não há porque ter medo. Ele está no meio de nós.

Agora, vamos recomeçar com as orações, os pedidos a Deus, e ela recomeçar novamente com os preparativos para o seu tratamento. Domingo eu a vi na missa. Fiquei feliz em saber que continua acreditando e buscando em Deus forças para a sua vida. Estamos juntos nesse caminho: ela, a família, os amigos, a comunidade e eu. Enquanto houver fé, haverá esperança.

 

Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz
Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal