Ainda é Advento

Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz

Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal

 

 

Pouco a pouco, na pequena cidade onde moro, pequenas luzes foram sendo acesas, trazendo aos corações o clima de espera carregado de esperança. E como é bom viver novamente esse tempo em que o padre, vestido de roxo, vai acendendo novas velas a cada domingo, no início da missa, lembrando-nos de que o Menino Luz há de chegar em breve.

A árvore de Natal da igreja está bonita, cheia de pisca-piscas e bolas de Natal coloridas, trazendo ao topo uma estrela dourada. O presépio está pronto, com seus pastores, ovelhas, os Reis e seus presentes, deixando vazia apenas a pequena manjedoura, esperando chegar a Noite Santa para colocar a imagem do Menino Jesus.

Na praça da cidade, toda enfeitada com as luzes natalinas, crianças cantam a canção “Noite Feliz”, emocionando a todos e renovando a esperança numa nova humanidade, com paz e solidariedade. Nas casas, enfeites nas portas, nos jardins, nas árvores. Há uma nostalgia no ar. Muitos aproveitam para limpar a casa, tirando o pó acumulado pelo ano que agoniza, esperando para acabar, dando assim lugar para o novo ano.

Nesse tempo de alegria e de esperança, muitos enchem o coração de saudades e os olhos de lágrimas. Como não sentir a falta da mãe que não está mais aqui e, mais uma vez, não terá aquela comida especial que só ela sabia fazer. Alguns se recordam do tempo em que todos se reuniam na casa da vó, com a mesa farta e os primos correndo numa algazarra sem fim. Risadas e rezas. “Por que tudo passa tão rápido?”, perguntam em seus corações, desejosos em poder reviver um pouquinho da paz daquele tempo.

Ah, o Natal. Amolece os corações mais duros. Faz-nos ter a certeza de que no final o que vale mesmo é amar e, entre alegrias e saudades, lembramo-nos de Deus que, num rompante de amor, envia o seu Filho Unigênito para viver como nós vivemos. Sentir o que sentimos. Chorar e rir, como fazemos. Em tudo semelhante a nós, exceto no pecado.

Aliás, foi justamente por causa das nossas escolhas erradas que o Filho foi enviado. Para nos levar de volta ao Caminho, à Verdade e à Vida. Ele poderia chegar triunfante, descendo das nuvens do céu com seus anjos com trompetes nas mãos. Mas não foi assim. Chegou pequeno, despercebido numa aldeia sem muita importância, com seus pais, pobres e sem influência, pois ninguém os acolheu em suas casas.

Mesmo assim, nasceu. Entrou nesse mundo para fazer a diferença. Mudar água em vinho, multiplicar pães e peixes, curar feridas do corpo e da alma. Fácil não foi. Mas, quem disse que ser humano é fácil. É preciso luta, determinação, força de vontade. É preciso ter muita paciência e recomeçar sempre. Viver é bom, mas tem os seus embates.

Mas sabe o que aconteceu com a chegada do Menino Deus entre nós? A terra ficou mais sagrada, e os homens e as mulheres mais abençoados. Deus quis que seu Filho se vestisse de carne e que tivesse o nosso sangue correndo em suas veias. Há uma dignidade maior no ser humano depois desse nascimento. Somos amados e por isso precisamos amar.

Confesso que, para mim, é triste perceber algumas pessoas preparando a chegada do Menino, comprando comidas, exagerando nas bebidas, trocando presentes, programando férias e viagens, sem se importarem com o verdadeiro motivo de toda essa festa: O nascimento de Jesus. Como pode acontecer isso? Por que tanta ingratidão com o nosso Deus?

É como participar do amigo secreto da família, levar os presentes, rir e confraternizar, mas em nenhum momento revelar quem é o seu amigo secreto. Há uma lacuna que precisa ser preenchida. Há um sentido que precisa ser resgatado. É deixar oculto o principal nascimento que já aconteceu nesse mundo.

Não se vê o brilho da estrela no firmamento, indicando a pequena gruta de Belém. Os pastores, sonolentos pelo tardar da noite, não comparecem para visitar José e Maria com o Menino no colo. Não há galo cantando ao lado do burrinho e da vaca do presépio. Os anjos não cantam: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”.

Mesmo assim, há muitas festas nas casas, nos clubes, nas praias. Comemora-se o amor entre os povos em meio a guerras. Fala-se em novos tempos, sem renovar os velhos corações corroídos pelas dores do mundo. Trocam-se presentes por costume, obrigação, tradição, esquecendo-se de que o melhor presente é uma prece sincera de agradecimento a Deus. Há muita disposição para passar a noite acordado, festejando, mas não há tempo para a Missa do Galo.

Enquanto isso, no altar das igrejas, o Cordeiro continua sendo imolado, o pão eucarístico repartido, os cantos entoados, os anjos, misturados aos fiéis, adorando o Deus da vida. E este tempo de espera, carregado de esperança, fica aguardando a disposição das pessoas na preparação dos corações para o verdadeiro Natal.

Ainda é Advento. Há tempo para arrumar o coração, afinal, a manjedoura de hoje não está mais em Belém, mas dentro de cada um de nós. Apressemo-nos, o Menino está às portas, alegremo-nos e Nele exultemos.