Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz
Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal
Estavam sentados na varanda da casa a minha espera. Ele, com quase oitenta anos, trazia um semblante triste e os olhos úmidos, esperando qualquer motivo para iniciar um choro silencioso e solitário. Do telhado não muito alto, descia uma cordinha que segurava um frasco de soro que estava ligado ao seu braço esquerdo. Cumprimentou-me, tentando dar um sorriso, e logo voltou ao seu afastamento, envolto em pensamentos distantes.
A senhora, que tinha a mesma idade dele, apresentou-se com um sorriso no rosto e, sempre falante, demonstrou alegria e esperança em dias melhores. Reclamou dos joelhos, desgastados com o tempo e impossibilitados de uma cirurgia de correção, devido à idade. Confidenciou-me, bem humorada: “Ele com problema de cabeça, e eu com dores nos joelhos. Se pudesse, cortava o que não estava bom em cada um de nós e montaria uma só pessoa. Aí ficaríamos bem”, disse rindo.
Tentei puxar algum assunto com aquele senhor, mas respondeu-me só o necessário. Ela, com a fala fácil, logo me explicou que participavam da missa da noite todos os domingos. E gostavam muito de irem à igreja. Mas, agora não dava mais. “Quando ele estava bom, ainda me segurava pelo braço e íamos devagar. Mas hoje não consegue mais me apoiar e não consigo mais levá-lo”, falou fitando-me nos olhos com uma tristeza que eu ainda não tinha observado em seu semblante.
Falei que iríamos levar a Eucaristia uma vez por semana e fazer as orações com eles. Ela ficou muito agradecida e prometeu, quando estivessem com mais saúde, voltarem a frequentar as missas. Rezamos, dei a Unção dos Enfermos, abençoei a casa simples e limpinha e fui embora, deixando a tristeza ali alojada, carregando comigo um pouco daquela dor e a sensação não muito boa de não poder ajudar muito aquele casal de idosos.
Levei também a certeza do bem produzido por aquela visita. A esperança sempre é um bom remédio contra a doença da tristeza. Traz de volta a alegria, mesmo que a dor continue. Mas fez-me refletir ainda mais sobre a vida e as surpresas que ela nos prega. Fazemos tantos planos, realizamos tantas tarefas, superamos tantos desafios, mas nunca estamos totalmente prontos para os limites da idade e das doenças.
Nessa etapa da vida, quatro pontos são de extrema importância para conseguir superar as dificuldades: ter fé em Deus, saber quem somos, contar com a ajuda da família e encontrar o verdadeiro sentido da vida. Esses elementos são construídos de maneira sólida ao longo da vida e através das escolhas que diariamente fazemos. Afinal, a vida é feita de escolhas, responsabilidades e improvisos gerados pelo tempo.
A fé em Deus e a prática religiosa, quando bem estruturadas e equilibradas, sempre nos fazem pessoas melhores. Ajudam a entender as contrariedades da vida e amenizam o medo da morte. Ter fé em Deus é encher-se de esperança e coragem para enfrentar nossos próprios limites e, muitas vezes, superá-los.
Estar perto de Deus faz-nos mais humanos, mais plenos da nossa capacidade de buscar a felicidade. Ir à missa, rezar o terço, fazer parte de um grupo de igreja, tudo isso é um verdadeiro antídoto contra as tristezas e as lamúrias que a vida traz.
A fé bem alicerçada leva-nos a um mergulho profundo em nossa própria alma. Descobrimos quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Traz respostas simples e seguras a essas perguntas complexas sobre a nossa existência. Saber dos nossos limites e talentos contribui muito a fazermos as pazes conosco mesmos. Paramos de ficar nos comparando com os outros ou querer ser aquilo que não somos. É libertador ter a história da nossa vida em nossas próprias mãos. Não ficamos mais procurando culpados pelas dores que carregamos e muito menos jogando nas costas alheias a responsabilidade daquilo que não nos deu certo. Tornamo-nos senhores da nossa vida. Donos dos nossos caminhos. E muito mais abertos às bênçãos que Deus tem reservado a cada um de nós.
Para isso, família é muito importante. Amar e ser amado. Ajudar e ser ajudado. Contar com o outro para o que der e vier. É preciso ter esse pequeno grupo de apoio que é quem, na maioria das vezes, vai nos amparar na hora do desalento. E é esse pequeno grupo que vai se alegrar com as nossas conquistas. Esse espaço familiar pode ser também ocupado por amigos verdadeiros que nos conhecem e são conhecidos por nós. São as pessoas que escrevem conosco a história da nossa existência e isso é reconfortante. Não estamos sozinhos neste mundo.
Assim, encontramos o verdadeiro sentido da vida. Sempre será um grande mistério viver. Mas sabemos que há muitas alegrias e realizações no meio dessa aventura da existência humana. Somos maiores do que pensamos. Trazemos em nós um amor Sagrado, desde a nossa criação. Esse amor deve pautar a nossa existência e é a fonte de todos os outros amores que iremos viver na vida.
É preciso sempre trazer conosco a importância da fé e da alegria em saber quem somos. Torna-nos mais seguros e faz com que não caminhemos sozinhos, pois teremos ao nosso lado mais pessoas fazendo essa viagem. E chegará o momento em que a única certeza é de continuar acreditando que vale a pena viver, mesmo que todas as dores que carregamos digam que não. É preciso saber transformar a dor em alegria.