“Quem me tocou?”

Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz

Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal

 

 

A multidão o seguia em busca da cura. Era preciso estar perto, ouvir o que falava, ou, se tivesse um pouco mais de sorte, tocá-lo. Muitos o procuravam porque não tinham mais para onde ir. Já tentaram de tudo, experimentaram tudo e sentiam a esperança, que sempre dava a sustentação para continuarem a busca, dando sinais de cansaço.

Ouviram falar que com ele a água havia se transformado em vinho no meio de uma festa de casamento. Alguns duvidavam: “Será mesmo verdade todas essas histórias que contam sobre ele?”, refletiam sem ter a coragem de colocar em voz alta esses pensamentos. Mas, apesar disso, também estavam ali buscando um milagre ou simplesmente querendo ver com seus próprios olhos algum evento extraordinário realizado por ele.

Naquele dia, ela ficou sabendo que o Profeta, era assim que o chamavam, iria passar por ali. A princípio duvidou. “O que estaria fazendo aqui em terras tão distantes e esquecidas?”, pensou. Mas, arrumou-se. Cobriu-se de panos e tentou estancar, sem sucesso uma hemorragia que há anos castigava o seu corpo e a sua alma.

Já havia procurado muitos médicos, tomado muitos remédios ensinados pelos mais velhos. Sujeitou-se a tratamentos doloridos que não surtiram o efeito desejado. E, depois de todos esses anos, já não acreditava muito na cura da sua doença.

“Por que tenho que sofrer tanto? O que foi que fiz para merecer tanta vergonha e tanta dor? Deus realmente se esqueceu de mim.”, falava baixinho em suas longas e tristes orações. Todos a abandonaram. Não podiam permanecer ao lado de alguém que sangrava dia e noite. Apenas a sua mãe a ajudava, dando-lhe um lugar para morar no fundo do quintal, escondida aos olhos de todos.

“O Profeta está chegando”, disse sua mãe, deixando transparecer nessa pequena fala uma esperança enorme em ver sua filha curada. Mas a mulher não tinha mais tantas forças para acreditar nessa cura. Mesmo assim, arrumou-se e foi. Mais para agradar a mãe do que por ela mesma. “Será minha última tentativa em buscar ajuda para a minha dor”, sentenciou o seu coração desanimado e endurecido pelo tempo.

Ao chegar à beira do caminho, por onde passaria o Profeta, ela levou um susto. Havia ali muito mais pessoas do que esperava. “Será que toda essa gente também está sangrando?”, pensou incrédula. E quase voltou para casa, antes mesmo de tentar olhar o Homem que iria passar por ali. Escondeu-se em tantos panos que mal conseguia respirar. O calor era enorme. Sentou-se à sombra de uma figueira e buscou lá no fundo da alma os últimos raios de esperança que lhe restavam.

“Ele está vindo!”, gritou um homem que havia subido no alto da árvore para vigiar a chegada do Profeta. A multidão correu ao seu encontro. Carregavam consigo o desejo de sanar suas feridas. A mulher também correu e um pensamento passou-lhe pela mente: “Se ao menos tocar as suas roupas, serei salva”. E conseguiu. Sentiu imediatamente que a sua hemorragia estancou. Estava curada da sua enfermidade.

Nesse momento, Ele parou, olhou para o céu e ficou por uns instantes assim, em silêncio. Toda a multidão parou junto com Ele e um silêncio de doer os ouvidos pairou naquele lugar. “Quem tocou minhas roupas?”, disse. As pessoas que estavam ao seu lado ficaram perplexas. “Todos estão te tocando, Senhor. Há uma multidão aqui”. Disseram os discípulos, tentando fazer com que Ele continuasse andando. Mas havia sentido que uma força diferente havia saído dele.

Como insistia em saber quem o tocara, a mulher, acostumada a viver no escondimento, a ser maltratada e calada em sua dor, jogou-se aos seus pés e, com muito medo, contou-lhe toda a verdade: “Fui eu, meu Senhor”. E Ele disse a ela: “Minha filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e esteja curada desse teu mal”.

Tudo voltou ao normal. Ele continuou o caminho. A multidão o seguiu frenética e ali, ajoelhada no meio da estrada, ficou somente ela. Não sabia se ria ou se chorava. Não tinha forças para levantar, mas não era de tristeza ou fraqueza. Apenas não acreditava no que havia acontecido e uma paz invadiu todo o seu corpo. “Estou curada”, falava baixinho para si mesma, pensando na alegria em poder contar esse milagre a sua mãe, quando chegasse a casa.

Há muitas pessoas que sangram no mundo hoje devido a doenças no corpo ou feridas na alma. Vimos que uma força saiu do Senhor e tocou aquela mulher. Mas, para isso acontecer ela se agarrou ao último fio de esperança que lhe restava. Caminhou, mesmo sem acreditar muito, até o lugar onde o Senhor iria passar e contentou-se em apenas tocar a sua roupa. Bastou esse gesto para que a sua cura acontecesse.

Não há necessidade de muito. Basta ir ao encontro do Senhor que está no caminho da vida e oferecer apenas o que você pode oferecer. A força que saiu do Senhor preencheu todas as lacunas daquela mulher e restaurou novamente o seu corpo, dando-lhe forças e paz para retomar a sua vida.

Não desista, mesmo que tudo seja difícil. Não se deixe conformar com as dores da vida. Procure o Senhor enquanto há tempo, abra o seu braço e deixe seus dedos tocarem a barra da sua roupa. Não diga nada, apenas sinta a força e a paz que invadirá o seu ser. Acredite. Ele ainda pode curar as suas feridas.