O agora é que importa

Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz

Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal

 

O aqui e o agora são os únicos momentos reais e concretos que temos na vida. O instante que se vive é o que faz com que tudo possa acontecer. É onde devemos situar as nossas vontades, nossas escolhas e, acima de tudo, o que dá a nossa vida algo que realmente vale a pena. O restante tem também a sua importância, mas de maneira menor.

Não podemos menosprezar o passado, pois carrega consigo a nossa história e define muito o que somos hoje. Mas, convenhamos, o passado já passou. Não se muda o que aconteceu. Não volta mais e não pode ser o centro das nossas atenções. É preciso revisitá-lo para recordar o que de bom fizemos, recordar pessoas queridas que já se foram e, de maneira muito especial, lembrar de onde viemos e onde estão as nossas raízes. Também, esse passeio esporádico ajuda a não repetir erros, a verificar se não ficaram resquícios de sentimentos nocivos à saúde do corpo e da alma. Às vezes, sem querer, guardamos pessoas, falas, atitudes que vão azedando a nossa alma e vão endurecendo o nosso coração.

Mas, depois dessa análise, é preciso deixar o passado em paz. Não há julgamentos, pois os tempos eram outros e as situações mudam. Não há retorno, tudo passa. Por isso é de extrema importância viver o agora. Estar atento ao presente é o segredo da felicidade. Conhecer bem a nós mesmos ajuda muito nas escolhas primordiais que a própria vida nos impõe.

Ficar pensando muito no futuro também não é a melhor escolha. Claro, é preciso prudência, responsabilidade e coerência. Mas deixar de viver o agora para colocar todas as nossas forças no que ainda não existe é falta de inteligência. Como viver algo que ainda não chegou? Quem nos garante que ele vai chegar e que vai ser do jeito que queremos?

Até o futuro é influenciado pelas escolhas feitas hoje. É por isso que viver bem o instante ajuda a tirar do futuro o peso que ele poderá trazer. Quando não se prepara bem o que está por vir, deixando para depois o que precisa viver agora, corre-se o risco de se frustrar. Já ouviu falar em “nadar, nadar e morrer na praia”? É justamente isso que acontece com uma vida centrada no passado, distraída no presente e atormentada pelo futuro. Realiza-se um esforço enorme uma vida inteira e termina sem alegria e sem paz.

O apóstolo Paulo, ao escrever para a comunidade de Corinto, nos dá uma orientação muito interessante sobre a importância de saber conduzir a vida. Diz que não devemos desanimar. Aliás, a esperança e a perseverança precisam sempre andar juntas. O desânimo é a ausência da força vital que nos move. Anima é o sopro divino que carregamos no peito. É a alma que move os nossos sonhos e nos ajuda a realizá-los. Por isso, nunca desanimemos.

Ele continua, dizendo: “Mesmo se o nosso homem exterior vai se arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia”. Vivemos numa época em que o exterior está muito valorizado. É o que se possui, o que se mostra, o que se ostenta. Mas, afinal, para que tanto esforço em investir em aparências se tudo passa? O exterior também se arruína. Agora, o que está dentro da alma não passa. A certeza da grandiosidade em existir é o que temos de mais sagrado e nos torna eternos.

Como é bom descobrir que somos únicos e que vale a pena viver o momento. Bom saber que há em nós um elo profundo com Deus. Criados à imagem e semelhança do Pai Criador e envolvidos pela misericórdia e compaixão do Filho Redentor.

Não sei se você reflete sobre essa realidade da fé, mas é bom pensar sobre isso. Enche-nos de alegria, segurança e, nos momentos mais difíceis, pois eles sempre aparecem, estaremos munidos de uma força espiritual, tão intensa, que iremos enfrentar as cruzes com dores, cansaços, mas nunca desanimados. Nunca.

O homem interior ainda tem o privilégio de contar com a presença do Espírito Santo fazendo morada com ele. Caminhando junto, inspirando, santificando e ajudando a discernir. Aliás, esse dom do Espírito é um dos que mais precisamos para viver o agora com segurança e leveza. Discernir com sabedoria. Fazer escolhas acertadas e justas vai nos garantir uma firmeza de sempre caminhar por caminhos seguros.

Se o homem exterior vai se arruinando, a certeza que temos, conforme a vida vai sendo vivida, é que chegará o momento em que realmente sobrará apenas o homem interior. Isso faz com que nos enchamos de alegria. Alegria por ter feito escolhas certas. Alegria por saber que mesmo com a ruína do que é externo, há vida depois de tudo. Alegria por saber que vale a pena se conhecer profundamente e gostar de si mesmo.

Portanto, passado, presente e futuro devem se juntar para uma única finalidade, a de ser agora uma pessoa íntegra que gosta de viver o que é bom. Deus é bom e é belo. A beleza e a bondade devem ser para nós escolhas primordiais para alcançar a felicidade. Deus sempre nos leva a encontrar o verdadeiro sentido da nossa existência.

Busquemos viver hoje o que realmente importa. E que essas escolhas fundamentais sejam os alicerces de uma vida fundamentada na integridade humana. Que a fé, o respeito e a solidariedade sejam partes integrantes de cada instante de nossas vidas.