Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz
Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal
Ontem fui celebrar a missa numa pequena capela de um bairro aqui da cidade onde moro. Pequenina, mas aconchegante. O ambiente, sem muito esforço, leva-nos à oração. No meu coração, a intenção dessa missa era pela recuperação da saúde de um paroquiano que está há mais de um mês hospitalizado. Foi para uma cirurgia no coração. Conversamos um dia antes do procedimento. Estava apreensivo, mas confiante. Sabia da gravidade de sua saúde e, como homem de fé, se muniu de esperança.
Tenho, desde então, acompanhado o calvário que esse homem tem passado. Confesso que o sofrimento não é só dele. Fez a cirurgia, ficou na UTI e, quando ia receber alta para o quarto, teve uma séria complicação e retornou para a mesa cirúrgica. Ficou entubado, precisou de ajuda para respirar, demorou muito para acordar, mas acordou. Ainda o visitei na UTI duas vezes. Uma vez inconsciente, da outra vez já desperto e me recebeu com um sorriso, apesar de não poder falar.
Dias atrás, eu estava pregando um retiro e, à noite, depois dos trabalhos, recebi um áudio dele mesmo me falando que estava bem, já no quarto, e que os médicos haviam tirado alguns aparelhos que ainda o prendiam na cama e, com muita alegria, disse-me que estava de alta hospitalar. Dois dias a mais no hospital e iria para casa.
Eu vibrei de alegria, assim também como a sua família, que sempre esteve presente nessa luta diária pela recuperação da saúde, e todos os amigos. “Deus realmente é muito bom”, pensei em voz alta, ouvindo pela segunda vez a sua mensagem.
Dois dias depois, alguma coisa não deu certo. De novo apareceu um sangramento no lugar dos pontos cirúrgicos e ele voltou a ser entubado na UTI do hospital. Não deu nem tempo de voltar para casa. Os médicos estão fazendo novos exames e avaliando qual deve ser o melhor procedimento para esse momento do seu tratamento.
Há um misto de emoções que vêm ao coração. Às vezes, a tristeza toma conta e penso o porquê de tanta dor. Outras vezes, volta a esperança de que esse momento vai passar e que logo ele estará novamente de volta a casa, à sua família e à sua vida normal.
Na missa, junto da comunidade, estava a filha desse paroquiano, que veio rezar pela recuperação do pai e pedir forças para a família continuar de pé. Refletimos sobre os desígnios de Deus. É preciso, nessas horas, buscar o auxílio da fé. Lembramos na homilia uma frase de São Paulo “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Essa certeza de que não estamos sozinhos é que nos faz redobrar as forças para continuar lutando.
Não devemos nos iludir e achar que não há sofrimento no mundo. Viver não é tão fácil assim. É por isso que precisamos sempre estar preparados para enfrentar os problemas que aparecem e acabam mudando o rumo da nossa história. É uma pena quando encontramos pessoas que não têm fé. Parece que sofrem mais do que deveriam, pois não sabem dividir essa dor com Deus.
Estar ligado ao Sagrado é acreditar que, apesar de tudo, somos amados e esse mundo é apenas a antessala do Céu. O grande milagre que devemos pedir na vida é saber viver bem. Uma vida saudável é uma vida equilibrada, onde se busca domar as tormentas interiores para dar lugar à calmaria. Onde as dores do corpo se transformam em fonte de bênção, unindo o sofrimento pessoal ao sofrimento de Cristo na cruz.
E quando chegar a tempestade, é preciso saber que ela também vai passar. Como chegaremos ao final desse transtorno eu também não sei. Mas, mesmo quebrados, arrasados, despedaçados, há sempre uma chance de recomeçar. Afinal, “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”, diz o salmista. É o Senhor que me dá o descanso. É Ele que me leva para verdes pastagens, para as águas cristalinas. E é só Ele que pode dar o refrigério à minha alma abatida.
Conversamos longamente, depois que a missa terminou, sobre os momentos em que seu pai descobriu que voltaria à UTI. Disse-me que ele foi confiante. Tentou ainda amenizar esse momento com palavras de conforto e de esperança. “Se venci os outros dois procedimentos, irei também vencer esse”, disse este homem que luta pela vida e só quer voltar para casa.
A nossa comunidade continua rezando. A família e os amigos também. E eu colocando todos os dias no coração de Deus uma prece, pedindo ao Senhor que tenha misericórdia e o cure da sua enfermidade.
“Oi, padre, boa tarde. Sua bênção, padre. Acho que segunda-feira receberei alta. Assim que chegar em casa eu darei um alô. Fica com Deus.”, disse ele no áudio que me enviou, dias antes de retornar à UTI e ser entubado. Estamos aguardando o seu retorno. Fique com Deus também. Ele está aí ao seu lado.