Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz
Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal
Raríssimos eventos no mundo conseguem romper o tempo e tocar o que é eterno. Um desses é a eleição de um Papa. Com o falecimento do Papa Francisco, voltou aos noticiários toda a liturgia da Igreja Católica para eleger o seu substituto. São expostos protocolos, regras, tradição e, acima de tudo, a seriedade com que esse momento é construído. O mundo fixa o olhar numa chaminé, esperando ansioso o surgimento da fumaça branca, sinal de que novamente “habemus Papam”.
Estava ouvindo os noticiários desta manhã, falando sobre o presidente da Rússia, quando, de repente, a notícia é interrompida e o sinal vai para a Praça do Vaticano, anunciando que havia acabado de sair da chaminé da Capela Sistina, em Roma, uma fumaça escura. “Ainda os Cardeais não chegaram a um consenso”, disse o repórter olhando para o alto. Numa demonstração clara que, por esses dias, esse evento é a prioridade das informações sobre o mundo.
O Conclave sempre povoa o imaginário das pessoas como algo misterioso e secreto. Devido ao fato dos Cardeais ficarem trancados com chave e sem nenhuma comunicação com o mundo externo até a escolha do novo Papa, muitas teorias vão surgindo sobre o que realmente acontece dentro da Capela Sistina.
A Igreja sempre ensinou que a escolha do sucessor de Pedro se dá, primeiramente, sob a luz e orientação do Espírito Santo. E acredito muito nessa verdade de fé. É este mesmo Espírito que conduz a Igreja nesses dois mil anos. Só assim se consegue explicar com segurança porque a Igreja Católica ainda não acabou e consegue, mesmo tendo passado por tantos percalços, manter o respeito e a honradez. É a mão de Deus sobre a Igreja.
Nesse momento, os Cardeis estão diante de uma das mais importantes obras do pintor renascentista Michelangelo, “O Juízo Final”. Estar na Capela Sistina, que possui mais de quinhentos anos de história, já é um sinal de que o tempo pode ser parado, dando assim uma abertura ao eterno. Rompe-se o poder do Cronos, considerado o senhor do tempo do mundo, para se dar espaço ao Kairós, o tempo de Deus, que não precisa de relógio e nem de calendário, pois ele não passa. Permanece.
No hoje da História, vivenciamos uma corrida insana entre os afazeres e tempo escasso. A impressão é de que não conseguiremos dar conta dos nossos trabalhos, pois o relógio anda rápido demais. A ansiedade está presente desde a mais tenra infância. Encontramos crianças ansiosas, impacientes, desinquietas. Os adultos não ficam atrás. Sempre correndo de um lado para o outro, em busca de uma vitória contra o tempo, quase sempre infrutífera.
Em meio a isso tudo, a Igreja tranca seus Cardeais sem se importar com a pressão dos que ficaram aqui fora. Não há pressa num Conclave. Não há calendários a serem respeitados, eventos a serem cumpridos, redes sociais para atualizar. Há apenas cantos, orações, disciplina e a reponsabilidade de elegerem, sob a tutela do Paráclito, o novo Papa para a Igreja.
Enquanto isso, no resto do mundo, casa de apostas vão anunciando os seus preferidos. Alguns desavisados vão atualizando teorias de conspiração do passado, fazendo verdadeiros malabarismos para se encaixarem no perfil do novo Papa que será apresentado. Jornalistas, sem nunca terem se ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento, nem professado a fé em Cristo, fazem análises profundas sobre os erros e acertos da Igreja Católica, e como ela é importante para o mundo.
Alguns católicos, desejando talvez ocupar o lugar do Espírito Santo, querem conduzir o Conclave, estabelecendo os “motivos sagrados” do porquê seu candidato a Papa é que deve ser eleito. Outros, alheios a tudo, continuam sua vida, não se sentindo pertencentes a esse momento histórico de sua Igreja.
O certo é que o próximo eleito será o Papa número duzentos e sessenta e sete da Igreja Católica. E, assim como aconteceu com Francisco, independente de que parte do mundo venha ou em que família foi criado, depois de empossado, será o “Vicarius Christi”, isto é, Vigário de Cristo no mundo e terá como principal missão conduzir, com serenidade, a barca de Pedro, muitas vezes, em águas turbulentas da humanidade.
Pode ser que, quando esse texto for publicado, a chaminé, no alto da Capela Sistina, já tenha soprado a boa nova da fumaça branca, anunciando ao mundo que foi escolhido o novo Sumo Pontífice. Mas, enquanto isso, temos tanto a aproveitar, tais como, o instante em que a história está sendo construída, o silêncio da Igreja, a reclusão dos Cardeais, a espera plena de esperança e a certeza de que a Igreja continua sendo Mãe e Mestra, conduzindo-nos com carinho, sempre mais, ao caminho do Cristo.