Ser cristão hoje

Há muitos mistérios nesse mundo. Acredito que todos nós já tivemos experiências do Céu aqui na Terra. Trazemos, pela fé, as alegrias de um mistério que já foi revelado por Jesus Cristo, o verdadeiro Deus que é Pai, amoroso, misericordioso e fiel. São João, na sua primeira carta, resume de maneira muito simples quando diz que: “Deus é amor!”.

Dentro das minhas experiências com a missão de padre, pude viver diversas vezes momentos únicos de espiritualidade. A primeira de que me recordo foi assim que entrei no seminário. Era uma manhã fria, e os meus olhos viram Jesus na figura do padre que estava presidindo a Santa Missa. Isso já faz muito tempo, mais de vinte anos, e eu trago gravado nitidamente em minha memória.

Não passava pela minha cabeça que aconteceria algo extraordinário naquela missa matinal. A disciplina da formação fazia com que cumpríssemos religiosamente todas as tarefas e horários estabelecidos. Os dias passavam rapidamente numa rotina de oração, estudos e trabalhos. Foi um momento muito importante para me tornar o que sou hoje. Aliás, disciplina anda meio em desuso hoje em dia. Tornou-se fora de moda, ultrapassado ou, diria antigamente em francês, “démodé”.

Era jovem ainda e trazia o desejo de conhecer pessoas e ajudar o mundo a ser melhor. Continuo acreditando nisso, mas hoje eu sei que os sonhos não envelhecem, apenas ficam mais maduros. É bom carregar na bagagem da vida um pouco de esperança. Ela nos ajuda a olhar tudo com mais serenidade e com menos julgamento. Faz com que alcancemos a paz tão desejada, mesmo que ainda exista o perigo da guerra.

Estava concentrado nas orações daquela manhã. Durante a missa procurava refletir sobre o evangelho e observava os colegas e o padre formador. Na hora da consagração, quando ele ergueu a hóstia já consagrada, eu vi Jesus ali, no lugar do padre. A princípio não entendi direito. Mas enquanto durou aquela visão, coisas de poucos segundos, eu fui percebendo a beleza do que estava acontecendo.

Podia ser coisa da minha cabeça, mas posso garantir para você, marcou para sempre a minha vida. Hoje, na celebração da missa eu sei da presença real de Jesus. Sei porque acredito e tenho fé no que a Igreja me ensina, mas também sei porque eu vi com meus olhos.

A religião deve trazer para os seus fiéis novas perspectivas de vida. Tem que ajudar o ser humano a ser melhor, ser feliz e levar a felicidade para todos. Tenho visto tantas situações negativas no que se refere à fé. Intolerância, interesses escusos, fatos estranhos à mensagem evangélica, poder, brigas, dinheiro.

Fico pensando: “Onde foi que erramos?”. E por que continuamos agindo assim, mesmo sabendo da beleza que deveria ser o culto ao nosso Deus? Jesus diria para nós, cristãos de hoje: “Povo de cabeça dura. Sepulcros caiados. Hipócritas!”.

A fé em Jesus exige de nós fidelidade ao seu ensinamento, mas também trazer para a nossa vida as suas principais características. É amar como Ele amou. É preciso ter nos olhos compaixão. É preciso orar e vigiar com sabedoria. É preciso ainda curar as feridas e erguer os caídos pelas estradas da vida.

Estar com Jesus é saber enfrentar até as calúnias e difamações, por causa do evangelho. Estar sempre pronto a carregar a cruz e a morrer, se necessário for. Acolher a todos, conversar com todos, entrar na casa de todos, chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram.

Ser cristão é ir a uma festa de casamento e ajudar a não faltar o vinho da alegria. É caminhar, com paciência, um dia inteiro explicando as escrituras para aqueles que perderam a fé e a esperança de manterem o coração ardendo. É chegar cansado depois de um dia inteiro de notícias não boas e, ainda, reunir a multidão e multiplicar o pão e o peixe. Falar com os pecadores públicos, por que não? Almoçar com eles. Trazê-los à oração e dizer no final: “Tua fé te salvou. Vás e não peques mais”.

É isso que se deve procurar quando se tem Jesus no coração. Mas, também é preciso ser sério com as escolhas da vida, responsável com as obrigações, fiel na oração, conhecer a doutrina da sua Igreja. Conhecedor da Palavra e feliz com a sua opção livre de seguir a Deus.

Ah, existe ainda mais uma coisa. Não falar mal dos irmãos da igreja. Não espalhar cizânia e confusão. Isso é coisa do Diabo. Se tiver alguma coisa contra o seu irmão, ensinou Jesus, chame-o num canto e conversem sobre o assunto. É preciso lavar a “roupa suja” em casa e não nas redes sociais. Isso é deselegante, mal-educado e, por fim, nada cristão.

Eu vi Jesus um dia, sem pretensão. Não me disse nada, não ficou muito tempo e nem pediu que eu acreditasse. Apenas mostrou que eu estava no caminho certo. Celebrar a eucaristia, participar da Santa Missa, confessar, é realmente um caminho seguro de salvação. Colocar em prática tudo o que se aprende do evangelho, também é um caminho seguro.

Aproxime-se do Senhor enquanto há tempo. Se for católico, busque os sacramentos e participe da sua Igreja que já está nesse mundo há dois mil anos. “Tu és Pedro, sobre essa pedra construirei a minha Igreja”, disse Jesus. Sejamos nós hoje os continuadores de uma linda história santa e pecadora. Santa porque vem de Deus e está em Deus, pecadora porque nela estou eu e está você, ainda aprendendo a sermos santos.

 

Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz
Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal