Pentecostes

Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz

Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal

                                                                         

Quando Jesus subiu aos céus, seus discípulos maravilhados e ao mesmo tempo incrédulos por verem o seu Senhor ir embora, ficaram olhando para o alto, talvez esperando que Ele voltasse. Mas, apareceram alguns anjos e disseram: “Homens da Galileia, porque ficais aqui, parados, olhando para o céu?”. Desconcertados, voltaram para casa e ficaram aguardando que se cumprisse a promessa da vinda do Espírito Santo, que não tardou em chegar, dando-lhes coragem e enchendo de alegria aqueles que se preparam para receber o Paráclito.

Defender e ao mesmo tempo Consolar, são algumas das atribuições do Espírito da Verdade, enviado pelo Pai e pelo Filho. Continua, ainda hoje, dando continuidade na missão de Jesus nesse mundo: Anunciar a boa notícia do Evangelho. E esse anúncio continua sendo válido e transformando corações, curando as feridas da alma e nos fazendo mais fraternos. Continua gerando frutos positivos por onde é germinado com respeito e fé.

O que o céu não suporta é ver o ser humano parado, olhando para o alto, com os olhos repletos de medo e incertezas. Não somos feitos para ficarmos parados. Há um caminho que precisa ser percorrido, mesmo que, às vezes, não saibamos direito para onde vai. Mas, parar, nunca.

E nem mesmo ficar só olhando para o céu. Há uma bênção de Deus na vida de cada ser humano, pois existir já é fruto desse amor divino. Mas, há também uma tarefa nossa em querer cumprir bem a vida que Deus nos deu. Sabemos da proteção de Deus sobre nós, pedimos a sua bênção e a sua misericórdia, mas, é preciso também realizar a nossa parte em sermos pessoas preocupadas com o outro, dispostas a fazer desse mundo um mundo melhor, a começar por nós mesmos.

Por isso, ficar parado olhando para o céu não é a melhor escolha. A fé nos garante que Deus nunca nos abandonará, e essa confiança deve-nos levar para a batalha da vida, sempre com certeza da vitória.

Rezamos, na Profissão de Fé, que Jesus “ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à Direita de Deus Pai todo-poderoso”, e um dia irá voltar para julgar os que estão vivos e os que já morreram. Bom, se Ele está ao lado do Pai, onde está o Espírito Santo?

Uma das reflexões mais lindas sobre a Trindade é saber que o lugar escolhido para que o Espírito Santo de Deus habitasse nesse mundo é dentro de cada ser humano. “Sois o templo de Deus”, escreve São Paulo, e torna assim cada pessoa responsável por cuidar e respeitar a si mesma e ao outro. O que é Eterno precisa encontrar nesse mundo um lugar mais próximo da eternidade para fazer morada, e esse lugar sou eu e você.

Por isso, o respeito entre nós deve ser sagrado. Ao aproximarmos dessa verdade, acabamos nos dando conta da sacralidade do corpo humano que, mesmo sendo frágil, limitado e corruptível, acaba sendo morada de Deus. Cantamos na sequência da missa de Pentecostes: “Consolo que acalma, Hóspede da alma, doce alívio vinde”.

Temos a capacidade de hospedar em nós o Consolador para nos tornarmos assim consolo para os que sofrem. Acolhemos o Espírito da Verdade, para levar a Verdade nesse mundo tão inclinado à mentira. Guardamos em nós a Luz vinda do alto, para iluminar a escuridão e a treva que o mal teima em disseminar em nosso meio.

Como ficar parados, olhando para o céu, com tanto o que fazer aqui nesse mundo? Talvez seja isso que os anjos tentaram dizer aos discípulos depois da ascensão do Senhor: “Vão embora, retomem a vida e acolham agora o Espírito Santo que, além de fazer morada em vocês, ainda vai iluminar os seus passos e abrir as suas mentes para compreender tudo o que o Mestre ensinou”.

Assim, numa pequena sala, na cidade de Jerusalém, com a presença da Mãe de Jesus, há dois mil anos, um vento impetuoso surgiu do nada e com línguas de fogo que pairavam sobre cada um deles, foram recebendo a Luz Bendita, que inflamava os seus corações e fazia sair palavras de amor e de calmaria, que eram recebidas e entendidas pelos estrangeiros de todas as partes do mundo.

A Torre de Babel de desentendimentos em que o mundo havia se transformado, trazendo confusão entre os seres humanos, que na pressa em falar a sua própria verdade, não ouvia e nem acolhia a verdade do outro, foi dando lugar às palavras de eternidade e consolação que o Espírito Santo sussurrava no íntimo de cada um.

Cada um, naquele dia, pôde sentir a beleza e a seriedade que é carregar Deus dentro de si. O peso em viver se torna leve, as dificuldades da vida tornam-se fonte de sabedoria e a violência é substituída pela misericórdia.

Hoje, ainda é Pentecostes. Tempo favorável de receber o Espírito Santo de Deus em nós e cantarmos como na sequência da missa: “Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós! Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”.

Vinde, Espírito Santo!

 

Apagamento do Círio Pascal. Pentecostes 2022.
(Foto: PasCom Paróquia Santo Antônio- Cosmorama.)