Estamos vivendo o “Ano da Oração”, instituído pelo Papa Francisco. Um convite a todos os cristãos católicos para aprofundar a reflexão sobre a vida de oração tanto pessoal como comunitária. Eu não sei o que você achou disso, mas senti que foi extremamente acertada essa ideia do Santo Padre.
Há muitos modos de rezar. Sabemos que um caminho seguro para percorrer nesse tema é descobrir o que os Santos e Santas fizeram e escreveram sobre esse assunto. Mas também podemos fazer experiências simples como, por exemplo, adquirir o hábito de rezar o terço. Tão simples e ao mesmo tempo tão profundo que seus efeitos conseguem curar as feridas da alma e acalmar o coração mais aflito.
Rezar é buscar uma intimidade com Deus. É ter tempo para falar com Ele e ouvir o Ele tem a dizer. É encontrar nas orações prontas, como o Pai-Nosso e a Ave-Maria, uma porta de entrada para a espiritualidade que, como um mantra, vai povoando a nossa mente e preparando o terreno para o Sagrado.
Numa formação recente sobre oração, aprendi que, antes de falar com Deus, preciso saber quem sou eu. Desvendar o mistério da pessoa humana a partir de mim mesmo. Saber que o que trago em mim é fruto de muitas realidades, tais como: família, cultura, personalidade, traumas, talentos, dons, sonhos. Sou feito de tantas peças que devem se encaixar perfeitamente, como um grande e complexo quebra-cabeça.
Cada peça deve ser analisada por mim. Preciso conhecer quem sou eu. Estar consciente de onde vim, para onde quero ir e ainda me reconectar com o agora. A vida é feita do passado, com suas histórias e experiências vividas, do futuro que ainda não existe, mas acaba me ocupando em muitos pensamentos e escolhas cotidianas, mas, de maneira muito especial, a vida só tem sentido no presente.
Aqui e agora é o que realmente importam. Quem sou eu hoje. Ter consciência das minhas ações a cada momento é descobrir que tanto o passado como o futuro dependem do que sou hoje. Posso, com a minha experiência diária, ir mudando até o meu olhar sobre o que já aconteceu na minha vida. Posso ainda descobrir coisas novas sobre o que já passou e, de maneira muito concreta, determinar minhas dores e alegrias futuras. Por isso, saber quem sou e o que quero é muito importante para adquirir profundidade e qualidade na vida espiritual.
Outro fator é saber quem é Deus. Descobrir os mistérios da Palavra é, de maneira muito profunda, adquirir um conhecimento celeste. Deus fala numa linguagem muitas vezes desconhecida para nós, como por exemplo: a linguagem do amor, da misericórdia, da justiça. São linguagens importantes para desvendar a pedagogia de Deus e descobrir como Ele age e o que espera de nós. A religião tem como um dos seus papéis ajudar o fiel a descobrir quem é Deus e fazer novamente essa ligação entre a criatura e o seu Criador.
Com Jesus Cristo, ficou muito mais fácil aprofundar esse conhecimento. Ele nos revelou o rosto de Deus e nos mostrou que o acesso a Ele se faz chamando-o de Pai. Daí abre o entendimento de que somos todos irmãos, pois temos um mesmo Pai. Se somos irmãos, precisamos cuidar uns dos outros com carinho e dedicação, dando mais atenção aos que mais precisam.
O Papa Francisco, numa de suas homilias, disse uma vez: “Para amar a Deus, concretamente, é preciso amar os irmãos, isto é, rezar por eles, simpáticos e antipáticos, inclusive pelo inimigo”. Na primeira carta de São João, encontramos essa pérola: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?”.
Descobrir que Deus é misericordioso, mas também justo, é primordial para o amadurecimento da fé. Com isso, descobrimos que não conhece a Deus quem não tem tempo para conhecer a si mesmo e os que estão ao seu redor. Não ama a Deus quem não ama a humanidade. Não se aproxima de Deus quem não assume suas cruzes e faz caminho com Ele.
A partir dessa descoberta de nós mesmos e de Deus, precisamos estabelecer um diálogo que, às vezes, é maduro e profundo e, outras vezes, superficial e ingênuo. O ideal é sempre alcançar a maturidade espiritual. É entrar em oração profunda com o Ser que nos conhece plenamente e nos faz livres diante do amor que nos oferece. A maturidade na oração faz com que o diálogo seja profundo e eficaz. Falamos e escutamos com facilidade. Entendemos a linguagem do amor. Respeitamos a vontade de Deus em nossa vida.
O diálogo ingênuo acaba por ouvir mais as vozes do mundo do que a voz de Deus. Fala muito de si e não reconhece, ou esquece mesmo, as bênçãos que já recebeu em sua vida. Comporta-se como uma criança chorona e mal-educada que, quando não recebe o que pediu, briga, fala palavrões, fica emburrada, fica de mal. O diálogo com quem é ingrato, na maioria das vezes, enche o coração de rancor e esvazia a alma das virtudes do céu.
Para concluir esse caminho aprendido na formação sobre oração, é preciso falar do silêncio, tão menosprezado no mundo atual. Silenciar-se é a porta de entrada para entrar em sintonia com esses três primeiros pontos que vimos: Eu, Deus e o Diálogo.
O silêncio ajuda o bebê a dormir e agita o coração do adulto. Desacostumamos com ele, pois aprendemos que estar vivo é estar envolvido a barulhos, alvoroço, agitação, ansiedade. Mas Deus gosta de chegar de mansinho, embalado por uma brisa suave e mansa.
Oração é o remédio de que precisamos para curar muitas doenças do mundo de hoje. Aprendamos a silenciar o coração se quisermos falar com Deus e descobrir o que Ele tem a dizer para nós.
Padre Djalma Lúcio Magalhães Tuniz
Pároco de Américo de Campos e Pontes Gestal