Episcopado paulista reflete perspectivas do fenômeno intitulado ‘Teologia do Domínio’

A 86ª Assembleia Regional dos Bispos acolheu na tarde de terça-feira, 4 de junho, no Mosteiro em Itaici, o Pe. Donizete José Xavier. Doutor em Teologia Fundamental pela Universidade Gregoriana de Roma, o orientador das primeiras sessões do encontro das lideranças paulistas sublinhou a existência de um movimento que “cria um reino aqui e agora. Uma projeção de poder que vai sendo construída. A teologia do domínio é o ‘encanto pelo poder’ que está posto nas mãos de alguns; uma teologia que dispensa sistematizações”, explicou.

Revisitando a cronologia do “fenômeno” exposto, o Pe. Donizete mostrou uma mudança do “não envolver-se com a política” com a “descoberta de caminhos teológicos” para pavimentar a pretendida proximidade com a mesma política. Nesse aspecto, religião e política se tornaram próximas também nas agendas públicas, como explicou o padre.

Primeira parte
Sublinhando o contraste entre a Teologia do Domínio e as conclusões do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), por exemplo, o Pe. Donizeti recordou que para os “dominionistas, os cristãos devem dominar os setores políticos, as instituições e consolidar o grande projeto nacionalista (…). Percebe-se a ‘sedução’ da afirmação que a ‘religião’ deve tudo governar. Porém, a Igreja sempre afirmou a relação entre fé e política, e fé e religião são distintos, ainda que não separados. A vida e a dignidade humana são valores invioláveis. Os projetos de domínio apresentam um mundo já pronto, acabado, sem lugar para a esperança”.

Aprofundamento
Tomando para os dias atuais o cenário de “uma guerra declarada” em que ”a batalha final contra inimigo já começou”, o Pe. Donizeti sublinhou que o detalhe está no culto de um apocalipse a ser apressado o mais rápido possível. “Está aqui o nó da questão: apressar o mais rápido possível um apocalipse pós-milenista, em que os cristãos vencerão a batalha em prol desse grande projeto de um Estado de traços teocráticos”, concluiu. “Veja que este é o problema nodal da Teologia do Domínio. Não é somente uma questão teórica, mas uma questão prática, pois para os dominionistas tem-se que adiar a vinda do Senhor para se estabelecer o plano teopolítico e criar um reino da divindade aqui e agora. Por isso, a Teologia dos Sete Montes, com a ideia de converter e evangelizar todas as pessoas e esferas da sociedade para Cristo”, completou.

Alertando para o fato de na Teologia do Domínio não existir referências da Encarnação de Cristo, o expositor alertou que “ignorar essa Encarnação de Jesus como centro da mensagem cristã é anular o seu senhoril e o seu Reino. Jesus é a própria presença do Reino, uma vez que sua pessoa é uma realidade dinâmica. (…) O perigo da Teologia do Domínio é ver no outro somente o inimigo, o pecador e o pecado, e nesse sentido, cultivar um sentimento muito mais de fratricídio do que o de fraternidade”, sublinhou o presbítero.

Diálogo
As provocações apresentadas ao longo das sessões iniciais da Assembleia suscitaram a participação dos Bispos. Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, Bispo Diocesano de Jundiaí, entre indagações, questionou como se manifesta a Teologia do Domínio na realidade eclesial para chamar atenção para alguns discursos enraizados na própria Igreja. Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, também fez menção à Inteligência Artificial, qualquer superficialidade no estudo da Teologia e a temática da desconstrução dessa Teologia do Domínio. “A Igreja deve ser mais Sinodal e servidora da Palavra. Toda exposição do professor Donizeti deve nos inspirar à Igreja Primitiva que, com paciência, venceu o Império Romano”, completou Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo Diocesano de Santo André. Dom Milton Kenan Junior, Bispo Diocesano de Barretos, ofereceu como indicativo a revisão das estruturas diocesanas, por exemplo. “Precisamos reconhecer a importância da formação do laicato”, sintetizou Dom Milton.

O Bispo Diocesano de Campo Limpo e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Comunicação Social da CNBB, Dom Valdir José de Castro, ilustrou as ações realizadas pela Conferência Episcopal no contexto das comunicações. O religioso também suscitou a necessidade de se retornar à Palavra. O Bispo Diocesano de Registro, Dom Manoel Ferreira dos Santos Júnior, MSC, acrescentou ao diálogo o fato de, em 2024, acontecer eleições municipais.

Ao considerar as manifestações, o Pe. Donizeti sintetizou sua fala final no quão amplo foi o tema exposto e, como caminho, recomendou a necessidade de que o aprofundamento no tema se estabeleça. O primeiro dia da 86ª edição da Assembleia Regional dos Bispos foi encerrada com Missa presidida pelo Bispo Diocesano de São João da Boa Vista, Dom Eugenio Barbosa Martins e concelebrada pelos bispos recentemente ordenados.

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